Pancada de verão

Chove e venta muito lá fora

Cá dentro meu cérebro trabalha

Silêncio e solidão reúnem agora

Idéias que a multidão embaralha.

O parque em frente de casa alaga

A rua torna-se terra ensaboada

É o desejo da mortífera praga

Para levar mais um à sua morada.

Enquanto a água desce pela parede

A que vem dos morros eu imagino

Levando corpos e casas tal a rede

Do pescador a cumprir seu destino.

Ficam sem freio os carros velozes

Impacientes, infelizes condutores

Gritam como feridos animais ferozes

Quando se lhe aproximam horrores.

Vou ver mais tarde nos telejornais:

- Enchentes, acidentes de sul a norte -

Mas tantas coisas já são tão banais

Que, nestas ocasiões, é normal a morte.

Brinda-nos com uma trégua a chuva

Foi uma forte pancada de verão

Deveria servir, perfeita como luva,

Para fazer refletir os gestores da nação.

Porém, de que lhes servem as vidas

De pessoas comuns fora das eleições?

Alimentam-se das nossas feridas

Mas pedem votos com boas intenções.

Chega! Enoja-me demais este assunto

O Céu despejou sobre nós sua ira

E, parte da minha, antes de ser defunto

Despejei, sem beleza, nesta “imbela” lira..

Cícero – 22-12-05

Cícero Carlos Lopes
Enviado por Cícero Carlos Lopes em 02/01/2012
Código do texto: T3418190
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