Eu ando descalço
Entre as escuras ruas caminha o límpido
Na calçada, os sapatos conversam com as calças.
Medo do mundo, estado de sitio social,
Será homem, matéria ou material?
O hálito pálido e cáustico já está quase sem fôlego;
Exprimido, exaurido no tempo.
Palavras se perdem em meio a tanta prudência;
Esperneados no côncavo vão da liberdade.
A máquina jorra óleo até quase o ultimo parafuso
E os sapatos, eles ainda falam com as calças.
O alimento que consome o homem;
O pêssego, a cânfora, o lírio e o ácaro.
Dos míopes olhos, tímidos e mortos de fome,
As lagrimas já não escorrem mais.
O límpido homem, único e ultimo,
Navega entre arquipélagos escondidos da mágoa, do lixo, do luxo e do homem.
A cor dos olhos, o cabelo, a barba e o bigode não falam,
Entretanto, os sapatos conversam com as calças.
A máscara não cai, o pendulo que se desfaz;
Recôndito, ridículo e solitário, o musico canta suas glórias.
As arvores que envolvem os pássaros,
Relâmpagos que quebram seus braços,
Único é o que escapa, e realmente escapa,
E voa, voa, voa, voa.
O íntegro o único, esdrúxulo, mas vivo.
Nu, descalço e andando na areia;
Agora já não se ouve nada;
Nem sapatos nem calças, só o som das ondas do mar.