Desesperanto
Mulher o que tu geras,
O mundo cria
A labuta caleja
O pecado vicia
A história aponta,
A sociedade errônea
Que de lado adorna
Do outro disseca
Mulher o que tu geras,
O mundo aplaude e adota
A revolta consome
A terra devora
A hipocrisia macula
O circo domiciliar caduca
Na escravidão hipotelectual
Desvanecendo à mesma escravidão de outrora
Mulher o que tu geras
É filho do infortúnio
De uma grande conspiração
De quem retêm tudo e todos na desolação
Uma frase inconcluida
Um perfume que exalou
Um laço desfeito
Um vínculo sem amor
Mulher o que tu geras
É de maneira surreal
Nem mesmo tu o conheces
Nem sabes que o concebeu no carnaval
Um moleque sestroso
Atrevido e preguiçoso
Filho do teu assombroso devaneio
Impensado e indesejado caiu como um raio
De quem só espera destruição
Mulher o que tu geras
Vejo pelas ruas aos montes
Sem teto, sem si mesmo
Perambulando, cambaleando
Bem logo cedo
Vi todos os dias de minha milenar existência
Em cada povo e em cada nação
Tem gente gerada ao culhão
Sem saber ao menos que é cidadão
Mulher o que tu geras
Não perpetua a espécie
Só serve como presa dos mais fortes
Que sobrevivem e enriquecem com o teu fruto
Que deveras é do teu caso com a prostituição
Mulher o que tu geras
Não nasce de um sacramento
Não vem com berço decorado
Nasce como vômito, escorregadio
É desnutrido desde então
É desprovido, ressequido
Apático, tímido, sem brilho no olhar
É pequeno, irritante, só caga e chora
Mulher o que tu geras
Não sabes tu de tu mesma
Não sabíeis de teu amante
Não sabes de teu rebento
És ignorante de tua própria sorte
És vazia de si em tudo que há
Vais de tempos em tempos vender-te
Pra ganhar sabes lá o que
És puro instinto, olho-te e veto-te pó
Mulher o que tu geras
É um futuro de lágrimas
Um barulho, uma guerra ingrata
Que desde sempre travaste
Vais desculpar-te com tua história
De cativeiro, de exílio, de massacres e custodia
Tudo em tua sina é derrota
De um tempo que vai e que volta.