Pivete - fruto do meio...



Quem foi que disse que eu nasci pivete?
Que eu escolhi ser filho de uma Puta?
Se a mulher que me pariu é alguém que luta
Com as armas que a vida deu pra ela...
Quem disse que eu tenho que ser traficante?
Ou mula nas mãos de um qualquer bandido?
Se eu nasci, cresci numa favela
De esgoto aberto, de becos e vielas
Não sou culpado,... fizeram isso comigo
Eles que erram e eu levo o castigo?!!...

Antes de eu ser ainda um ovo-zigoto
Acobertado em um baixo escroto
Mostrei que vim ao mundo pra vitória
Entre milhões de espermatozoides
Corri venci uma correria louca
E ganhei como troféu essa vida
Que por infame fez-me desprovido
De amor, conforto, educação, abrigo
Direito, voz, lugar e opinião...

Então não venham me fazer engolir Freud
Nem se refiram a mim como escória
Apoiando em Darwin, diz que  sou fruto do meio
Falando coisas de mim sem receio
Achando que sou um alienado...
Se sou vergonha,... minha vida inglória
É pura falta de oportunidade
Ou omissão de gente que me explora...

É muito fácil julgar-me a revelia
E me culpar por toda sua anomalia
Por sua fraqueza e desumanidade
Quando lhe pesa a falta de consciência,
Sua ciência explica a minha rebeldia,
Sua instituição de confinar menores
Atribui-me a culpa, e lá dentro eu faço escola
Pra ser tal qual me imaginou um dia.

Se quando eu nasci, não tinha armas na mão
Nem papelote, nem pedra de crak,
Eu não sabia o que era cheirar cola
E nem fazer cabeça com carreirinha...
Se sou vergonha,... minha vida inglória
É pura falta de oportunidade
Ou omissão de gente que me explora
Como Pilatos, se é que tem coragem
Finja inocência e lave suas mãos
Ou me ajude a mudar essa história...


Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa, 17/04/2012
Nina Costa
Enviado por Nina Costa em 18/04/2012
Reeditado em 01/08/2021
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