FAVELA

...E o mundo estava no Alto.
O povo abençoava o que lhe vinha do céu,
o sol brilhava, era forte,
seus raios chegavam primeiro no morro
o universo resumia-se às casas emboladas;
telhas rachadas, lonas, madeirites, papelão, 
lata d'água, pá, rodo e piaçava...
pão bolorendo, copo de café,
pés descalços, camisa do Brasil,
gooool!!!!
O povo pobre estava rico.
As águas da chuva passada corriam morro abaixo.
Apesar do mato traiçoeiro, da terra escorregadia,
a vista era como nenhuma e se tinha o calor astral.
O sol brilha no rosto e nos olhos,
o catarro escorria do nariz da criança,
as lágrimas secavam-se com facilidade.
O povo limpava, arrumava, sorria,
pensava que reconstruia moradia
e se sentia: dono do tudo.

Feliz visão altaneira
porque  já não há desmoronamento
é hora de esquecer o barro, 
sacudir o pó, reaprender o que é ser 
brasileiro:  dono do nada.


Paineiras, 1975
Divina Reis Jatobá
Enviado por Divina Reis Jatobá em 04/02/2007
Reeditado em 07/07/2008
Código do texto: T369408
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