O FIM DO MUNDO
Os fins justificam os meios?
No caso da ética, nem todos os meios são justificáveis,
pois nela não há a aceitação destas abominações:
a traição de Judas e o ato de Pilatos.
No mundo a improbidade administrativa é uma virose cultural
para a qual ainda não inventaram uma vacina jurídica eficaz,
e a criminalidade registra anualmente índices alarmantes, fatos
coerentes com os baixos índices de desenvolvimento humano.
Assistimos aos acontecimentos escorrendo entre nossos dedos,
mas não sabemos nos dar as mãos para mudar nossa história.
Tentamos saciar nossa sede de dignidade e cidadania
com um copo de verdade, mas água pura, salutar,
já não há na fonte, só a mentira, o engano e a hipocrisia,
que são os combustíveis da máquina que move a politicagem.
Malgrado as diferenças naturais, todos são iguais perante a lei,
mas saindo das letras frias do papel e entrando na realidade,
deparamos a discriminação social e política da população
por causa de preconceitos de origem, raça, sexo, cor e idade.
Ao raiar de cada novo dia, o sol da esperança renasce,
porque a esperança é um dom divino, nunca morre.
Entretanto o pesadelo da fome e da miséria, como um filme,
continua a rodar na tela do cinema social, sempre reprisado,
denunciando a injustiça social, esta sementeira da violência.
Muitos adultos sofrem a amargura do desemprego,
e muitas crianças padecem a tortura da desnutrição
nas relações entre o capital humano e o capital financeiro,
em que a corda arrebenta sempre do lado mais fraco.
Não queria beber este cálice de vinho, porque é amaríssimo,
mas como cristão aceito, humilde, a vontade do Altíssimo!
Diante de tantos canhões apontados na minha direção,
o meu consolo é que um dia estarei dormindo em paz,
sob o luar alentador de uma noite escura, muito escura,
que cobrirá de orvalho as folhas ressecadas pelo tempo,
espalhadas nas paisagens de uma época difícil de provações.
Apesar do fogo calcinante da fornalha econômica,
apesar da nuvem negra que encobre o jogo político,
apesar de todas as vicissitudes da vida sonhe, poeta!
porque a poesia é seu melhor escudo para esses dias de luta.
O excesso de poder nas mãos de uma minoria,
em detrimento da qualidade de vida da maioria,
não há de ser nada, há de ser apenas o caminho
do fim do mundo, que se aproxima devagar, devagarinho,
a cada corrupção praticada debaixo dos panos e, afinal,
a cada verba pública desviada da sua finalidade social.