PASSAPORTE PARA O FUTURO

Era um dia de chuva densa,

Ardia na pele a friagem cortante!

O vento espalhava sua fúria aquosa,

Fúria que alagava a avenida imensa!

Desciam num fluxo intenso e constante

Os fios massivos daquela chuva grossa!

Na calçada um menino franzino, com gripe,

Engraxava com zelo sapatos caros, de grife,

Com seus pés descalços, sujos de lama:

Lama do chão imundo!

Com sua alma sofrida, suja de lama:

Lama da frieza do mundo!

Notei que o menino espirrava

Enquanto exercia seu ofício!

E pensei com Deus: que vida difícil,

Na sua idade eu só estudava!

Recordei a minha infância,

E vi um menino asseado sentado à mesa

Da sala de aula de um renomado colégio!

Vislumbrei o destino daquela criança

No corpo de um homem maduro,

E para minha amarga surpresa

Percebi que o tempo que dediquei ao estudo,

Este passaporte para o futuro,

Foi, na manhã da minha vida, um privilégio,

Porque não precisei trabalhar, tive de tudo!

Antes de me deitar, olhei para o retrato

Da minha mãe, que foi uma mulher forte,

E pensei com ela no silêncio do quarto:

Mãe, como é frio esse chicote!

Carlos Henrique Pereira Maia
Enviado por Carlos Henrique Pereira Maia em 24/06/2012
Reeditado em 10/07/2012
Código do texto: T3741350
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