DEPOIMENTO DE UM FAVELADO

Choro de saudade de tudo que não fui,

das primaveras que passei sem florescer,

dói-me na alma a lágrima que flui,

como ácido inclemente a me corroer.

Não tenho renda, não tenho legado,

não tenho um Cadillac,

não sou culto, não sou letrado,

não sou um Olavo Bilac.

Tento sobreviver numa realidade

dividida entre a escassez e a abundância,

entre a negrura da necessidade

e a secura da ganância.

Conheço a miséria a fundo,

minha condição social transparece

todo o abandono do mundo

e toda a dignidade que em mim falece.

Não sei o que é cidadania,

mas sou chamado de cidadão,

represento o mártir da tirania

de um sistema de exclusão.

No céu da pátria não me antevejo,

meu futuro é cego, surdo e mudo,

do sol da liberdade sou apenas um lampejo,

estou carente de sorte e cansado de tudo.

Carlos Henrique Pereira Maia
Enviado por Carlos Henrique Pereira Maia em 24/06/2012
Código do texto: T3742164
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