A Rua da Biroska

A mulher que

o tempo dobrou,

embala a criança

de nome estranho

e ri da miséria

que o pintor Modernista

não pintou.

À sua direita,

na sarjeta comum,

uma moça de saia curta

mostra o que se advinha,

enquanto sonha com o Rapper

que haverá de lhe tirar

daquela vida.

Homens vãos

olham-nas de longe

e talvez lhes imaginem

nuas ou mães

e entre tais desejos

proferem acanhadas grosserias.

Noutra esquina, na soleira

da Biroska,

o neo Revolucionário

proclama a neo Revolução

que a todos redimirá,

mas o seu discurso tosco

não encontra eco no funcionário

da Metalúrgica que arrasta

as pernas cansadas

pelos tantos carros que fizeram.

E no fim, a noite

a todos recobrirá.

Como a vida

sempre lhes fez.