FACE E DISFARCE
A máscara não aparece do nada, como em um conto de fadas,
ela é lentamente criada, pelo desgaste, pela identidade rasgada.
Como produto do meio onde vive esse ser inconseqüente,
fruto de uma sociedade doente, preconceituosa e excludente,
não consegue se sentir “gente", nem tão pouco componente de uma vida condizente.
Tantos traumas em sua alma, palavra que não acalma, gritam pela ilusão,
que tende logo a passar, mas a busca não pode parar, para não recordar a decepção,
muitas vezes de um lar desfeito, sem pudor e violento, onde a própria conivência o faz iniciar,
essa jornada perigosa, que pode ser uma ida sem volta e só tende a aumentar.
Não se pode simplesmente, através de um olhar impertinente, deixar tudo como está,
sendo parte deste contexto, temos deveres e direitos para pelo menos tentar mudar,
esta realidade maldita, egoísta, oportunista em que estão a se encontrar,
dentro de uma bolha profunda, contrabandista e imunda, sem chegar a algum lugar.
Quem é bandido, quem é mocinho? Quem pode acusar ou remediar?
Quem pode apontar o erro sem ser incluído neste patamar?
Quantas vezes fechei os olhos para não vislumbrar,
para desviar a rota, esquecer ou não agonizar.
O palpável esta à porta, urrando, batendo, gemendo sem parar,
só me resta saber se a vítima esta do lado de dentro ou fora a gritar.