Grito sem cérebro
Mãe, sinto-te envolta em tristeza
Como a tarde de inverno
Da qual se aproxima o crepúsculo
Mãe, sinto-te aflita
Como as ondas do mar
Quando contra os rochedos se chocam
Mãe, sinto tudo que tu sentes
Porque a ti estou unido
Pelo cordão de prata
Através do qual me nutro
Sim, Mãe, eu me alimento
Eu respiro, bate em mim um coração;
Mesmo assim, não te faço alegre
Trago-te ao invés do riso a dor
Embora por ti sinta imenso amor
Dizem-te: - Vida não há! Não tem cérebro;
Não se faz presente hemisfério,
Nem se desenvolverá!
Peço-te desculpas, Mãe
Não queria que fosse assim
Desejava apenas tua felicidade
E acabei por trazer-te sofrimento
Sei que vivo porque me alimento
Embora o contrário diga a ciência
Como posso desdizê-la, se por verbo
Tenho somente a ausência?
Mãe, sei que vou morrer. É a certeza,
Certeira, a comungar com todos
Mãe, rogo-lhe apenas, deixe-me
Da vida sentir meu gosto
Mais uma vez, Mãe, sei que vou morrer
Porque imperfeita é minha existência
Mãe, responda-me, quem tem a vida eterna?
E qual é perfeita em evidência?
Mãe, não me tire a vida
Que tu mesma deste!
Mãe, não permita que morra
Aquele a quem tu fizeste!
Mãe, te amo tanto, tanto
O maior sacrifício por ti farei
Que posso dar-te? Nada,
Se não a vida que não viverei