Grito sem cérebro

Mãe, sinto-te envolta em tristeza

Como a tarde de inverno

Da qual se aproxima o crepúsculo

Mãe, sinto-te aflita

Como as ondas do mar

Quando contra os rochedos se chocam

Mãe, sinto tudo que tu sentes

Porque a ti estou unido

Pelo cordão de prata

Através do qual me nutro

Sim, Mãe, eu me alimento

Eu respiro, bate em mim um coração;

Mesmo assim, não te faço alegre

Trago-te ao invés do riso a dor

Embora por ti sinta imenso amor

Dizem-te: - Vida não há! Não tem cérebro;

Não se faz presente hemisfério,

Nem se desenvolverá!

Peço-te desculpas, Mãe

Não queria que fosse assim

Desejava apenas tua felicidade

E acabei por trazer-te sofrimento

Sei que vivo porque me alimento

Embora o contrário diga a ciência

Como posso desdizê-la, se por verbo

Tenho somente a ausência?

Mãe, sei que vou morrer. É a certeza,

Certeira, a comungar com todos

Mãe, rogo-lhe apenas, deixe-me

Da vida sentir meu gosto

Mais uma vez, Mãe, sei que vou morrer

Porque imperfeita é minha existência

Mãe, responda-me, quem tem a vida eterna?

E qual é perfeita em evidência?

Mãe, não me tire a vida

Que tu mesma deste!

Mãe, não permita que morra

Aquele a quem tu fizeste!

Mãe, te amo tanto, tanto

O maior sacrifício por ti farei

Que posso dar-te? Nada,

Se não a vida que não viverei

João Ibaixe Jr
Enviado por João Ibaixe Jr em 18/03/2007
Código do texto: T416772