Dívida de consciência
Meu Deus, uma criança me pede picolé. Ela disse: me dê um picolé.
Eu a olho de frente.
Me dê um picolé
Eu a olho com angústia.
Ei, vá rapaz, me dê um picolé. Vá!
E eu dei a ela.
Não sei se dei angústia ou se dei compreensão. Só sei que dei.
Ela me deu pesar, sofrimento sem culpa. Era apenas uma criança com face sem expressão de criança.
Dividi com ela a minha consciência, um mundo sério, íntimo e desconhecido. Dividi as pupilas que sempre se dilatam para chorar o que muitos não entendem.