A cidade não para
Narinas carbônicas passeiam
em frente ao Palace Hotel
lendo frases em outdoors
que anunciam mercadorias
nem sempre tão necessárias
como dizem as letras garrafais
acessas no alto de trinta andares.
O ritmo da urbe é conhecido
sua vísceras passeiam em bares
em corpos boêmios e medalhas no peito
em sístole e diástole
num ritmo acelerado em meio ao concreto
quase sempre dizem saber o caminho
seus domicílios tem frente
para outros domicílios com grades
as construções disparam
numa arquitetura moderna
e uma insensibilidade
que pendura nas sombras sonoras em alta velocidade.
Seus bairros são povoados
por imigrantes -
senhores e senhoras com seus filhos
passeiam no Shopping Center
no jogo insano da propriedade diluída
nos três segundos depois
a mercadoria da o tom da capital
parcelada em sessenta vezes
tudo por um sorriso.
As máquinas estão em movimento
desviam a palavra de seu sentido
conduz o trem do crescimento
iluminadas pelo marketing midiático
informações em fibra ótica é a promessa
de uma velocidade em planos
e nossa dor é disfarçada
no próximo comentário filantrópico.
Demônios debatem-se no inferno.
Qual jogo em jogo ?
Qual a regra sem jogo
de uma cidade piscando em holofotes?
Apocalipse é o que se escuta nas ruas
o medo é visível nas pegadas
um medo sentido e compartilhado
quem reinará para sempre
no fio de uma navalha sem dor?
- pervertidos em perversões
usam da mesma mímica quando encenam -
o segredo é procurado em autoajuda
e nenhuma resposta condiz com a necessidade
a cidade é mesmo uma fera
a urbe é sedenta por sangue
com seu encantamento vulgar
passeia numa paisagem em alta combustão
resta saber o sentido de tamanha dramaturgia
com cenas em movimento abraçando a mercadoria.