OS OLHOS ABERTOS DA METRÓPOLE TEIMOSA

Lailton Araújo

Batem na estaca da nova construção

Lá vem o edifício cobrindo a paisagem

A periferia, tão amiga e humanizada

Já é freguesia da mais fria especulação

Tratores removem toda a terra, o gueto

Na miséria retocada, agora eu sou você

É cidade crescendo e o povo vivendo

É cidade cantando: cidadão burguês

É cidade sofrendo e o povo morrendo

É cidade brigando no perfume francês

Vem de lá o que ele viu, e que eu vejo

Com o olho do cego que vê o Sertão

Na primeira visão, ele observa a ação

Viaja no futuro sem esquecer o passado...

O jeito é de cão, na cidade ou no mato

Não comete engano quem usa seu faro

É cidade crescendo e o povo vivendo

É cidade no tempo de cidadão acuado

É cidade sofrendo e o povo morrendo

É cidade correndo - mundo globalizado

Postais e muambas, nas bancas: camelôs

Olheiros avisam que o rapa vai chegar

Motos e brindados na disputa de um lugar

Nas ruas e calçadas, novo modo de andar

Celulares à vista, aposentando os orelhões

Desemprego e miséria, vitrines, promoções

É cidade crescendo e o povo vivendo

É cidade vendendo: alguns comprando

É cidade sofrendo e o povo morrendo

É cidade perdendo e muitos lucrando