POEMA SEM TÍTULO
Desde que o mundo é mundo
Que sou só no mundo.
Esse mundo imundo,
preso às cascas finas
De um céu profundo.
Um prazer corcunda,
sobre um osso insosso.
Tantas guerras frias
Uma agonia.... uma agonia.
Desde que o mundo é mundo
Que sou só no mundo.
Esse mundo imundo,
de tanta maldade
e nenhum limite.
Tanta injustiça, soberba cobiça
Essa anarquia, que cheira a carniça.
Sob urubus, vive um povo pobre
no mar da saudade
de uma vida bela.
Sozinho à janela
Vê passarinhos
Simples e bizonhos.
Um arfar de sonhos entre os moinhos.
Desde que o mundo é mundo
Que sou só no mundo.
Esse mundo imundo,
de tetas caídas.
Ante a fome, gemem
tantas criancinhas.
Um favor estranho
Serve a esses bichos
Uma morte fria.
E outros gritam,
Com as mãos tremendo,
A lágrima caindo
Sobre a face funda.
Desde que o mundo é mundo
Que sou só no mundo.
Esse mundo imundo
Em que tudo é ágil
E a fé é frágil.
Onde os ratos voam
Nas roupas de grife
E, na sopa, há
Uma mosca triste.
Um simples poema
De um poeta anônimo:
Vejo o sol que aça e
clareia a carcaça
da epiderme murcha
que descobre a raça
dos do beiço grande
bem na superfície da periferia.
Suba a calça frouxa! Pegue a sua trouxa!
Sê feliz no mundo!
Desde que o mundo é mundo
Que sou só no mundo.
Esse mundo imundo
De fraquezas sóbrias
De uma imagem sólida
Da insensatez.
Políticos corruptos
Soluços de morte
Povo à própria sorte
Bandeira na mão.
Saúde doente
Martelo dormente
Sobre a mesa escura
De um só juiz.
Àquele que, de longe,
Avista a estátua dura
De uma mulher bem cega
Sem braços e sem mãos.
Triste ignorância
Que o homem possui.
Mares de discórdia
Cada um por si
Põe nossa existência
A um pormenor
Tristes de nós homens
Depender do mundo
que é controlado
por esses corcundas
de costas cobertas
que vivem usando
a bela bengala da democracia.
Desde que o mundo é mundo
Que sou só no mundo.
Esse mundo imundo
Onde o poema é curto,
Sucumbe à incompleta e
falha inspiração.
Já não tenho asas
Para um voo noturno
Entre casas e lages,
Nem contemplação.
Mas ainda vejo
Ganância por tudo
Um lodo espalhado
por toda nação
dum país caduco.
Terá solução?
Isso tudo é lixo
Quanto desperdício
De vida, de pão.
A ideia flui.
A palavra ecoa.
Essas marcas brutas
Fazem reacender
A tinta escura
de uma pena leve
Que nada releva.
Que mesmo em tropeço
Não nega as angústias
Desse infindo ser:
SER HUMANO.