NEGRO

NEGRO

Muito obrigado, Senhor,

por eu ter nascido negro

e que hajas feito de mim

a soma de toda dor

pondo sobre minha cabeça

o mundo hostil que carrego

desde a primeira alvorada.

Branca e negra, meu Senhor

são cores das circunstâncias

que nos impuseram um dia

para alongar as distâncias

e por isso nos oprimem

com rancor e covardia...

Estou satisfeito, Senhor,

com meus braços curtos, largos,

a espessura dos meus lábios

e a forma do meu nariz

que aspira os ventos do mundo.

Mil espadas perfuraram o meu peito,

mil braseiros queimaram meu corpo são,

mil chicotes rasgaram meu corpo inteiro

e o meu sangue jorrou forte e indefeso

nos mares, rios e campos,

enriquecendo as nações...

Mas mesmo assim eu agradeço

porque mesmo carregando

sobre meus ombros cansados

um mundo tão dividido,

crio dias toda noite

através do meu sorriso.

Ceres Marylise
Enviado por Ceres Marylise em 17/08/2005
Código do texto: T43134