NEGRO
NEGRO
Muito obrigado, Senhor,
por eu ter nascido negro
e que hajas feito de mim
a soma de toda dor
pondo sobre minha cabeça
o mundo hostil que carrego
desde a primeira alvorada.
Branca e negra, meu Senhor
são cores das circunstâncias
que nos impuseram um dia
para alongar as distâncias
e por isso nos oprimem
com rancor e covardia...
Estou satisfeito, Senhor,
com meus braços curtos, largos,
a espessura dos meus lábios
e a forma do meu nariz
que aspira os ventos do mundo.
Mil espadas perfuraram o meu peito,
mil braseiros queimaram meu corpo são,
mil chicotes rasgaram meu corpo inteiro
e o meu sangue jorrou forte e indefeso
nos mares, rios e campos,
enriquecendo as nações...
Mas mesmo assim eu agradeço
porque mesmo carregando
sobre meus ombros cansados
um mundo tão dividido,
crio dias toda noite
através do meu sorriso.