Distraída.

Voa uma pedra por cima de minha cabeça.

Rasga o céu um corisco incandescente.

A queimar em brasa as esperanças

de um inverno tranquilo.

E, em seguida chove.

Chove fino e miúdo.

E, mesmo assim acesos estão os ânimos

Dos que gritam, dos que protestam.

Dos que quebram o que quer que se encontre

pela frente.

A gritaria sinfônica é acompanhada

de acordes de vidros quebrando em sustenido.

Voa agora uma bomba de gás lacrimogênio.

Lágrimas são artificialmente produzidas.

E uma tontura nos enausea como...

se fôssemos tombar bem a beira do abismo.

Não caio no abismo.

Mas o meu sangue pinga junto com a chuva.

E latejam meus pensamentos

Pois a pedra me acertou.

Sou um alvo atingido.

Sou uma cabeça tingida de sangue

E de dor.

Sou uma pessoa absorvida pelo

pandemônio.

E, indefesa volto covardemente

Para buscar abrigo de onde sai.

Entro novamente.

Mas agora sob o manto do pavor.

Acolheram-me.

Limparam-me a ferida.

Esperei a trégua.

que tardou.

O tempo entrou num túnel de torpor.

E, por instantes mágicos,

teletransportei-me até

ao átrio do templo.

E os espinhos e as dores

magicamente cessaram.

E, agonia estancou

junto com o sangue.

Finalmente, reconfortada.

Guiaram-me até o caminho.

E, pelo caminho, percebi

ainda inexata e avexada

Que a fragilidade pode ter sua força.

Meu corpo atônito

se comanda sozinho

por exaustão.

Meus olhos choram

Mas é por conta das palavras

que fogem.

Quero chamá-las

com minha mudez parva.

E, tudo que consigo articular

São gemidos ineptos.

A palavra foi abortada

com uma única pedrada.

A pedra a esmo

que certeira

alcança

a semântica distraída.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 07/07/2013
Código do texto: T4376592
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.