DELIVERY
DELIVERY
Nas casas modernas
Pouco se cozinha
Perdeu-se um pouco do materno
A comida virou campainha
Charmoso delivery
Ou se não, marmita ou quilo
Que é aquilo
Que se engole no dia
Pura fisiologia
Não há mais cheirinho
De arroz, feijão e bifinho
De cebola e alho frigido
Tudo é frígido
O sentar a mesa
Conversar o dia
Virou tristeza
Família vazia
O café foi pra padoca
Não é mais na toca
Não tem mais açúcar
Nem papo pra adoçar
É adoçante pra sintetizar
E assim vai indo o lar
A família vai junto
Pro restaurante ou bar
Sem cheiro, sem o estar junto
Foi-se o cheirinho de casa
Foi-se a união da cozinha
Foi-se a conversa mansinha
O falar mal da vizinha
A reclamação da louça empilhada
Da gordura no fogão depositada
Mas acima de tudo
Foi-se o prazer sobretudo
De ter um lar
Que virou casa
Apenas tijolos
Um bater asas
Com lágrimas nos olhos