O médico cubano, o charuto e o arroto tupiniquim

Meu caro amigo,

O médico só é cubano,

Ele não porta charuto,

Nem fuma como no governo,

O que a pequena ilha caribenha

Produz de tabaco em folha

Em nada se compara

Ao que o Brasil exporta

Se em Cuba há médicos fumantes

Aqui em terras tupiniquins

Também os há, e não são poucos

Aqueles que se tornaram dependentes

Que a nossa "desinformação"

sobre o preparo dos charutos

e dos médicos cubanos

não nos leve a julgamentos precipitados

Estes médicos cubanos

Já estiveram em muitas frentes

na África e na Ásia,

cuidando de gente refugiada

Das guerras sem fim

Eles não vivem em país capitalista

Não vieram por motivo monetarista

E irão servir em terras do sem fim

Onde poucos médicos brasileiros

Ousariam fincar os pés

No exercício da arte que abraçaram

Nem por dez mil reais, casa e comida.

A decisão deles é humanitária

Cuba tem soberania

E não lambe os pés do imperialismo

Apesar de todo o bloqueio imposto

A saúde dos cubanos

tem os melhores indicadores

de toda as Américas,

Quem avalia é a OMS

Quem tive alguma dúvida

E não estiver contaminado pela mídia

Verá que está se cometendo um grande equívoco

Com esta postura racista e xenofóbica contra um povo

Só porque eles fizeram uma revolução

Tiraram um tirano sanguinário

E conquistaram o direito

de fazer da Ilha de Cuba um país soberano,

Livre do jugo americano

Da exploração do sangue de seu povo para o mercado

das multinacionais de albumina e hemoderivados

Das jogatinas dos cassinos e da prostituição.

Mas, caro amigo,

Esta ilha nos incomoda bastante,

porque preferimos visitar Miami, a Flórida, Nova Iorque

porque vivemos e assimilarmos um modo de viver capitalista

E assim, fica difícil compreender

Porque um pequeno país socialista

possa produzir vacinas, tecnologias de ponta,

ter analfabetismo zero e formar verdadeiros médicos

Médicos comprometidos com a saúde pública

Médicos de todas as cores, sem discriminação

de raça, credo, poder, ideologia

E nós deveríamos agradecer a eles,

Por cobrirem uma lacuna,

que nós, brasileiros, não fomos capazes,

por nos concentrarmos nos grandes centros

e praticarmos esta medicina de muitos empregos,

De pouca efetividade,

apesar de toda a tecnologia que dispomos

porque nos tornamos dependentes demais dela

e já não alcançamos os pontos nevrálgicos

Porque já pouco tocamos

as pessoas - muito pacientes - que nos procuram

Porque já estamos cansados

de sermos explorados, que ao invés de olharmos

Para os nossos próprios umbigos

Ficamos como ventríloquos

A repetir a cantilena contra os estrangeiros

- ou melhor, cubanos - ninguém faz graça com médicos

De outras nacionalidades

Que os cubanos definam suas prioridades

De acordo com a soberania - e a liberdade que

eles conquistaram - enquanto nós aqui

Preocupados com o regime de uma pequena ilha,

Continuamos elegendo "democraticamente"

pelo voto comprado, de cabresto, financiado

pelas grandes corporações, os Sarney, Renans da vida.

Perdoe pela longa missiva caro amigo ,

Ainda bem que os médicos cubanos

toparam vir para os rincões de nosso país,

eles não irão fumar charutos

- salvo se forem dependentes -

Eles irão cuidar de nossa gente

tão desassistida em regiões remotas do país

E a única revolução que eles farão, se nós não impedirmos,

será a da saúde pública, que já deixamos de praticar há muito tempo.

AjAraujo, o poeta humanista, escrito em setembro de 2013, a propósito da chegada de médicos cubanos ao Brasil com a missão de trabalhar em regiões e cidades do interior do país, no programa "MaisMédicos" do governo federal.