RETIRANTE

Semeia a semente, o campônio.

Traz na algibeira um terço benzido

Para espantar seus demônios

Que há muito teve por bendito.

Vislumbra a verde seara alegre

E faz o sinal da cruz bem ligeiro...

Não quer ser simples passageiro

Na nau da vida que ora segue.

Cava a vala rasa da semente

Enlouquecida por gerar frutos

E sua mão semeia incontinente

plantando vida no chão bruto.

Passa a mão grossa pela testa

Mede as horas na esteira do sol,

contemplando o seu arrebol

E se entrieira com o que lhe resta:

_Eita, que esta chuva logo vinga

Bateno seu casco pelo chão

E, por Deus, sendo Deus ainda,

Hei de sová o trigo do nosso pão.

Hei de bem cuidá a minha roça,

Lavourá a minha disgraça,

Vê muié e fios fazeno graça,

Coieno mio de inchê carroça.

Mais a chuva, mardita sina,

S'iscondeu tanto, mais tanto,

Qui a água que vêi de cima

Moiô menos que o meu pranto.

E lá fui eu cuidá da vida

Tocano os passo nôtras lida!

Paulo Pazz
Enviado por Paulo Pazz em 25/11/2013
Código do texto: T4586633
Classificação de conteúdo: seguro