O HOMEM
O Homem
Somos frutos da perfeição
Título esse que não merecemos
Afinal não há nada mais imperfeito
Que a vida dos humanos.
Tudo nos foi concebido,
E a tudo desprezamos.
Criados para o amor;
Plantamos o ódio.
Abençoados pela fé;
Semeamos a intolerância.
Somos vidas
E percorremos por caminhos sem fim.
Somos conhecidos pela nossa semelhança
Da qual somos diferentes.
Somos virgulas
Atrás de pontos que não resolvem um exercício,
Um exército de perdidos
Em nossas próprias vidas.
Somos erros que comprometem a verdade,
A mentira da convivência,
A falta de criatividade para sermos felizes.
Somos incertezas de olhos assustados na escuridão.
Somos a desistência de liberdade,
Um poço de vaidade e medo
Que nos tornam parasitas da consumição.
Somos o vácuo por onde escapa a vida.
Problemas sem soluções,
Viagens sem escala,
Cantigas que não são cantadas.
Somos o desprezo a falsidade,
Incapazes de grandes verdades.
Ou um dia quem sabe
Por nós darão as mãos
Virtude e lealdade,
Contemplando-nos com suave amizade
Refletida em versos torneados ao som da lira
Que se abisma nas lôbregas tristezas
Dos murmúrios da saudade.
Neste dia haverá grande persuasão
Em dias de total harmonia
Que fará de nós doce humanidade,
Para encantar, seduzir, atrair felicidade.
Mas teimosas fantasias de comportamento
Teimarão em conosco brincar.
Risos do poder do vento,
Lembranças e vultos tenebrosos
Do interior humano voltarão a assombrar.
Somos imperfeitos,
Mas lutamos com coragem
Para essa natureza amenizar.
Contudo a realidade nos tornou assim.
Nascemos puros e fomos contaminados,
Mas ainda somos dignos de um perdão.
Talvez outra geração ao lembrar de nós
Possa cantar ao trovador
De tal forma que nossa evolução
Não tenha sido imprudente
Pois evoluímos tanto
Que esquecemos o que realmente devíamos ter lembrado,
A evolução que tivemos
Não foi a que desejávamos.
Aplausos e reverências a Taine.
O mundo é mesmo transformista.
Tudo muda a todo segundo,
Somos ondas que deleitam no mar.
Vida!
És tão bela e tão inconseqüente,
Que nem mesmo o Criador
Conseguiu prever os erros de suas criaturas.
Somos do mundo fieis interpretes
Que mostram em versos dor e audácia
Expondo no tribunal da Eternidade
Honras, expressões e grandes idéias.
Somos nós contrastes barrocos, vidas antíteses.
Será que temos consciência
Da transitoriedade da vida?