Menina que paria poetas

Só havia um caminho

Ela sentia muita dor

As fissuras na terra seca

Pareciam romper seu destino

A tarde vermelha com a poeira

Movia rochas com estigmas milenares

A inundação vazia trazia de volta

Suas moléstias da infância abortada

A loucura derredor e a insegurança

Fez girar o mundo ao avesso.

Pesadelos dissipam o seu sono

A inquietação fez pequeno

Seu leito de pobreza e varas

A dor aumenta e traz com ela

O líquido nutritivo da vida

Que ainda não respira

A escuridão chegou para ficar

Animais de rapina

De hábitos noturnos

Devoram o que sobrou do dia

A violência do incesto

Fruto amparado pela desgraça

Traz de volta a dor

Entre as pernas

Das profundezas uterinas

Desabrocha o tesouro

Rompe a linha da vida

Da miséria exacerbada

A arritmia do canto triste

Esvai-se ao longe

“Boi, boi, boi

Boi da cara preta

Pega essa menina

Que tem medo de careta”

A dor se multiplica

O corpo sem força é sugado

Ordem natural e biológica

A batalha pela vida sem vida

A vinda ao mundo da poesia

Ela só tinha 14 anos.

Sidi Leite
Enviado por Sidi Leite em 28/04/2007
Reeditado em 18/11/2007
Código do texto: T466764
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.