Rebelde Sem Causa

Rebelde Sem Causa

“Como é que eu vou crescer sem ter com quem me revoltar” – Ultraje a Rigor

“Hope I die before I get old” – The Who

“Nasci d’asas Com asas Cortaram-me as guias”. – Almada Negreiros

I

O Rock é Rebelde,

Os Hippies foram rebeldes,

Allen Ginsberg era rebelde,

Jimi Hendrix era rebelde,

Janis Joplin era rebelde,

Jim Morrison era rebelde,

Os Rebeldes não são rebeldes!

Sal Paradise onde está Dean Moriarty agora?

On the Road – Pé na Estrada – Route 66!?

A Rebeldia romântica é burra!

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Sem rima e sem metro

Entregaram o cetro!

Rei deposto, gesta de desgosto!

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O velho Belchior tinha razão,

“Na parede da memória

Esta lembrança é um quadro

Que dói mais!”

II

Fumar ópio, fumar maconha,

Cheirar pó, queimar crack,

Dar-se ao vício, perder a vergonha,

Ficar só, levar um baque!

Liberdade pra se negar tudo,

Liberdade pra se acabar mudo,

Liberdade do grito vazio,

Liberdade de morrer de frio!

III

Fugir da escola, cabular aula,

Já dizia Gregório Boca Suja:

“Pouco estudo, isto é ser estudante!”

Dar pauladas, cuja dor é inebriante...

Zombar de todos, responder ao professor,

Jogar-se ao lodo, quebrar regras por amor

Ou por ódio... Já sabia os Paralamas:

“Saco nada de Física, Literatura ou Gramática

E odeio Química!” A escola é cínica e lama enfática!

IV

A Rebeldia romântica é burra!

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Almada: “Hei-de, entretanto, gastar a garganta

A insultar-te, ó besta!”

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Sabia o Herbert, não o Vianna,

Que quis o destino, caísse do céu,

Ícaro redivivo!

Mas o Marcuse, Dédalo dos labirintos do Sistema-Minotauro!

“"Não sou pessoa de deixar mensagens em garrafas.

O que temos a dizer não é apenas para um futuro mítico!”

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V

A verdadeira rebeldia não é sem causa!

Sem causa são os tolos e os intoleráveis!

O Mundo não para nem a vida tem pausa!

Rebelde é quem lê letras indecifráveis!

A viagem da mente por pó, líquidos ou ervas

Não é viagem da mente, é só delírio fútil!

Deixar a alma tornar-se muda e inerte serva

Sofrendo ao vento o passar do tempo inútil...

Rebelde é quem entrega a vida e a alma

Ao trabalho contínuo, febril, quase insano

De buscar o segredo, o mistério do trauma

Da Morte! Que se entrega por todos os anos

A decifrar a existência e com fúria ou calma

Estuda a Vida e traceja ousados planos!

VI

A Rebeldia romântica é burra!

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É preciso olhar o Universo,

Do grão de areia, da casca de noz

Ao fim dos céus e dos tempos!

O alfa e o ômega de todas as coisas,

Vencer os vírus, ir pr’além do fim!

Viajar no tempo em corpo ou espírito,

Superar a dor dos sonhos não realizados,

Ser, enfim, imagem e semelhança de Deus,

Encontrar a resposta tanto procurada,

Tornando a condição humana mais humana,

Eis a rebeldia verdadeira, louca varrida, delirante e insana!