Morto no Percurso

José Qualquer

Filho de Fulano de Tal

Vivia bem com a mulher

Mas vivia mal

Estudou que não foi normal

Passou

Mas, não teve fôlego

Para chegar ao final

Casado, pai de dois Zezinhos e uma Maria

Esperava apanhar um pezinho um dia

Sozinho, coitado

Matava a fome com a carpintaria

E não tinha tempo para a Engenharia

Queria ser Engenheiro de Estrada

Para segui-la aonde fosse

Para fugir de tudo ou nada

E José não dormia

E José se perdia

A ouvir a mulher, pobrezinha

Que à vizinha dizia inocente:

“Meu marido inteligente

estuda e ainda dá conta da gente”

E voltou Zé Carpinteiro

Sentava, crucificado

Trabalhando o dia inteiro

E bebia para esquecer

Tantas cruzes por poucos cruzeiros

E assim morreu Zé da Cruz

Numa vala da estrada

Aparando a enxurrada

E as pessoas que ali passavam

Não sabiam de nada

Que Zé da Cruz já foi gente também

Que Zé da Cruz já cedeu muito bem

Que Zé da Cruz já foi número que entrou no computador

Que Zé da Cruz já foi nome e até foi chamado de doutor

Zé da Cruz

Não faz mal

Que a vida vai ao além

E lá vai viver muito bem

Vai chegar salvo e são

São José

E a Cruz

Fica na Terra pra quem quiser

José Qualquer

www.ruimontese.com.br

Rui Montese
Enviado por Rui Montese em 28/03/2014
Reeditado em 14/12/2019
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