ZÉ NINGÚEM
Zé foi garoto atrevido
Primeira ousadia: nascer
Superou-se além do almejado
Mesmo que desnutrido
Depois Zé foi mais ousado
Só por ter sobrevivido
Todo desengonçado
De tudo era desprovido
Mas o Zé não se entregava
Achava já ter vencido
Pois depois de tanta luta
O menino havia crescido
O Zé queria ir mais longe
Queria ser reconhecido
Como qualquer ser humano
Alguém lhe falou: duvido!
O Zé não lhe deu ouvido
Continuou a batalha
Tantas portas se fecharam
Que o Zé não teve escolha
Passou a mão na navalha
Sem ter outra opção
Mesmo sem ter noção
Resolveu virar bandido
Depois de alguns assaltos
O Zé que era ninguém
De repente virou gente
Viu seu rosto em cartaz:
“PROCURA-SE O INDIVÍDUO”
E hoje o Zé é lembrado,
O Zé, aquele esquecido.
Quando quer algum sossego
Tem que viver escondido