"Ana"
Já estava tudo programado
Já estava tudo cronometrado:
Quarenta e oito horas para ver o meu amor
Quarenta e oito horas para acabar com esta dor...
Chegou o dia tão esperado
Ensaiei um bonito discurso
Tomei um banho decente
Purifiquei corpo e mente
E até me vesti como gente.
“Ana” já me esperava sorridente,
A mãe me olhava desconfiada
E o pai, carrasco,
Sugeriu que fossemos para o seu quarto:
- A sós!
Enquanto isso, mãe e filha
Discutiam a meu respeito:
Ana me defendendo
E a mãe...
Mas a discussão foi interrompida
Com um som agudo de tiro
O desespero de Ana era visível em seus olhos,
Correu para o quarto e ali só viu o pai,
Olhar contente, satisfeito
E o meu corpo, ensangüentado no peito,
Covarde,
Mas perdoei.
Cinco anos depois, ainda assisto de camarote
O desfecho desta estória:
A mãe se arrepende até hoje
De não ter um dia me escutado,
O pai foi condenado
Mas não se arrependeu,
E Ana, pobre Ana,
Tento pretegê-la da melhor forma possível...