INSTANTÂNEOS DA CIDADE

Um catador procura o quê reciclar;

O velho fica no chão sentado

À espera da caridade alheia

Tendo no colo apenas um cobertor surrado;

Ao largo passa uma adolescente

Cheia de “piercings” com seu cabelo vermelho;

Uma mulher jovem saudável (não está nem aí)

Caminha pela calçada com pantufas rosa

Que eram duas patas de urso, nos pés,

Ouvindo no celular músicas preferidas;

No semáforo para um gay quarentão

Conversando com a mãe e uma tia,

Sem perder de vista o menino adolescente

Que do outro lado da rua caminhava

Com a menina por quem talvez fosse apaixonado;

Eu tentava ser apressado tinha hora marcada

Para fazer uma tomografia, sigo em frente,

Pensando estar atrasado, no hospital informam

Que há um atraso de duas horas (demorou seis).

O que fazer diante do caos?

Nada melhor que escrever poemas

Observando pessoas, as células da cidade pulsando

Perdida em contrastes, onde um

Não se importa mais com o outro

Olho na calçada e penso em fotografar tudo

Mas somente escrevo e o único instantâneo

Que consigo fotografar é a sala de estar

Que um morador de rua criou para suas visitas

Bem na beira da calçada... eu vou embora

Levando as minhas e as dores do mundo...

Bem-vindo ao mundo civilizado.

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08.06.14

MÁRIO FEIJÓ
Enviado por MÁRIO FEIJÓ em 08/06/2014
Código do texto: T4837119
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