APENAS UM VERME.

APENAS UM VERME.

Acordei pensativo, hoje.

Bati três vezes no vão.

Fiz duas figas com dedos.

E o crucifixo no peito.

Como espantando azarão.

Do lado do coração.

Olhei a cara no espelho.

Senti a dor no joelho.

Beijei o pé do coelho.

O rosto ainda amassado.

Cuspi a noite dormida.

Senti a alma ferida.

Tomei café com a família.

E tudo foi clareando.

Naquele dia tão brando.

Iluminado do sol.

Sentei na minha cadeira.

E folheei o jornal.

E li supreso a notícia.

Que alguém com certa perícia.

Na edição da revista.

Na parte editorial.

Arregalei os meus olhos.

E me senti muito mal.

O mapa do meu genoma.

Qualificava meu drama.

Não era nem a banana

No fundo do meu quintal.

Não tinha eira nem cerne.

Aquele estúpido animal.

Senti-me vil rastejante.

E quase fui esmagado.

Pela saúva Fuji.

Fazendo toca ali.

Agora na limuzine.

Relendo o magazine.

E de repente previ.

Que a notícia que eu li.

Sentado nessa poltrona.

Era o retrato fiel.

Entre o inferno e o céu.

Entre o verme e eu.

Honorato Falcon
Enviado por Honorato Falcon em 20/05/2007
Reeditado em 18/07/2011
Código do texto: T494719