Desvario

Caro amigo, caminhante,

Que me olhas assustado,

Sou apenas circunstante

Dum sinistro anunciado.

Vês um corpo estendido

Às margens da fria estrada?

É só mais um desvalido,

Privado da vida por nada.

Não merecia morrer.

Perdeu a vida em vão,

Só por tentar proteger

O seu mísero tostão.

Negou-se a se desfazer

Do pouco dinheiro suado,

Crendo poder vencer

O agressor desalmado.

Foi pura e simples loucura,

Desvairada ilusão.

E, nessa insana aventura,

Tombou no frio chão.

Sucumbiu a uma bala,

Certeira, no coração,

Como paga do destino

Por sua ingênua ação.

Estou aqui a seu lado

Em triste contemplação,

Pasmo e desolado

Frente a tal situação.

Sei que a morte não tem cor,

Não discrimina ninguém:

Lava o santo e o pecador,

O rico e o pobre, também.

Mas como assusta a crueza

Com que um salteador

Usa de sua destreza

Para semear a dor!

E como dói o desatino

De cidadãos desesperados,

Que, num surto repentino,

Perdem a vida por trocados!

Josué Batista
Enviado por Josué Batista em 15/10/2014
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