Hecatombe
Cem bois sacrificados
Suas mortes e sangue 
para purgar pecados indizíveis.

O cheiro da carne impregna
a alma
as narinas
e os sentidos.

As lágrimas hemorrágicas mancham
rostos e histórias.
Suicidas idolatrados.
Homicidas
transformados em heróis...

Massacres sub-reptícios
Ocorrem todas as noites
nos morros,
favelas e comunidades
miseráveis e abandonadas
pela indiferença...
pela geografia íngrime

Lançadas próximas ao céu
mas inseridas no inferno.
Costuradas pelo medo estampado
nas faces,
nas melodias tímidas de
sofrimento
explícito e sensual.

Precisamos de muitos sacrifícios
diários para adivinhar 
por meio de ídolos,
deuses e semideuses
que diáfanos
nos permitem alguma luz.

Alguma lucidez 
diante do ópio da alienação
reinante.

Mas tudo é tão real
Tão contundente triste.
Crianças trabalham e 
brincam de sobreviver...

Perdem a infância e
a inocência se suja
pela avareza imediatista.

A água sanitária tenta 
em vão
remover as manchas de sangue
nas escadarias..
das pegadas comprometidas com
a conivència...

O cloro ascende as narinas
E comunica a morte límpida 
No final do beco,
não há túnel,
E não existe opção.

Não se cogita de versão.
Somente o que há para se ver
do ápice
da mais alta miséria.

São os pequenos burgueses
se amesquinharem em seus
esquemas de mais-valia.
Onde tudo não vale
quase nada.

Onde a vida é
número em estatística.
Guardada na gaveta do esquecimento.


 
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 19/10/2014
Reeditado em 19/10/2014
Código do texto: T5004758
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