AMARGO BLUES PARA NEW ORLEANS

Calaram-se o blues e o ragtime

os velhos lamentos no branco-algodão

o pranto longo das gaitas, o grito surdo dos metais

(sax, trumpetes, tubas quietas)

Silêncio insano dos bluesmen

Jaz calado o traditional jazz...

Seus alegres cortejos

rumo ao cemitério

não tem mais sentido...

O vento e o mar em fúria...

O seu Mississipi

Te invadiram...mais cosmopolita

cidade dos E.U.A

(franco-anglo-afro-greco-ibérica-etc)

Seu Quartier – French...

Calou-se também o acordeon,

O zydeco com seu sotaque francês...

Submersa...por águas inquietas

de um mar e um rio que até ontem

te acariciavam...

O teu lamento ecoa do fundo

das águas;

milhares de corpos perdidos...

É duro, New Orleans...

A grande Potência...impotente à

Natureza,

A grande Nação...”polícia” do mundo

Não consegue socorrer seus pobres e

desabrigados.

Mas o que esperar desta América WASP?

De Bush e seus asseclas?

O teu pecado, New Orleans

É ter alma estrangeira, negra

Mistura inquieta de culturas e sons

Espalhados por seus cantos.

Mas o que esperar

Desta Fat-América

Devoradora de hot-dogs, hamburguers

e idiotices sem fim?

Que acredita piamente

num deus loiro de olhos azuis?

Afinal de contas, New Orleans

Teus lamentos não são verdes...

(e o pranto dos negros e pobres não comovem o

US Reich)

Clamo agora pelos metais:

Troem, soem insanos

Armstrongamente em tuas esquinas submersas...

Pelas Singers, Bluesmen e Band Jazz

Num concerto sem notas

Contra esta atroz miséria...

Entoem, com suas lágrimas misturadas ao mar

O mais amargo blues

Um blues negro contra a indiferença

Bailem, sobre as águas,

Com teu blues vermelho

Tinto de sangue e desespero

Agora, New Orleans

É o que resta:

Cantar seu mais amargo e profundo Blues...

DARWIN FERRARETTO
Enviado por DARWIN FERRARETTO em 13/09/2005
Reeditado em 23/09/2005
Código do texto: T50174