Mãos, braços e pernas misturados com metais, 
farol e cacos de vidro.
Sangue esparramado no negro do asfalto.
Tinje estranha pintura.
Sapatos perdidos, bolsas destroçadas ao chão...
Lá vai a laranja rolando ladeira abaixo...
Na surdina, ela foge da confusão.

Chega gente, e mais gente...
curiosos, impacientes e passantes.
E também o guarda
e o bom samaritano.

Entre tantas falas se ouve nitidamente
gemidos, grunidos de dor intensa.
Ouve-se nitidamente a dor arrastada pela
palavra "socorro".

E o sangue esparama-se ao acaso.
Escorre gosmento, e vai escurecendo
lentamente...
Um cão vadio passa e lambe
com o devido olhar triste
pois reconhece a morte se avizinhando.

Escurece a vista da vítima...
Turvas trevas esquadrinham a cena,
Apaga-se lentamente o olhar da vítima;

E alguém, suponho, religioso
acende uma vela bem rente a calçada.
Tremula a chama da vela...
mas o corpo antes agonizante,
estatelado ao chão
não mais tremula.

Ouve-se passos, algaravia...
De repente, a aguda sirene premia
e traz a maca como troféu.
E leva retilínea o corpo sem vida.
Que parou de gemer.
Que parou de sofrer.
Que simplesmente abandonou 
essa nau perdida da vida.

Abortou-se em pleno atropelamento.
Deixou vestígios urbanos.
E grossos números
para as estatísticas.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 26/11/2014
Reeditado em 27/11/2014
Código do texto: T5049786
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