O cortador de cana

Novecentos mil
Cortadores de cana no Brasil
Ganham um salário médio
De quinhentos e setenta reais por mês

Quem corta doze toneladas
De cana por dia
Caminha
Mais de 8 quilômetros

Desfere
Cento e trinta e três mil
Trezentos e trinta e dois
Golpes de facão

Faz
Trinta e seis mil
Seiscentos e trinta
Flexões e giros de corpo

Perdendo
Oito litros de água
Para ganhar por tonelada cortada
Três reais e trinta e quatro centavos

Cada golpe de facão
Corta sua vida
Corta sua dignidade
Corta sua cidadania

Durante um dia
Degradante
Come cabisbaixamente
Sua bóia fria

Oriundos do Agreste
Vale do Jequitinhonha
Zona da Mata Nordestina
Sertão e do Meio Norte

Carne barata do capital
Sem carteira assinada
Sem aposentadoria
Sem direito a nada

Adoça o ventre da terra
Adoça a vida do povo
Adoça o lucro do usineiro
Adoça sua própria desgraça

Desprovido de armas
Contra o sol escaldante
Contra animais peçonhentos
Contra a fome do capital

O Capitalista
Esmaga
Indiferentemente
A cana e o homem

São queimados
São esmagados
Viram suco
Viram pó

Bruno Augusto Valverde Marcondes de Moura
Bruno Valverde
Enviado por Bruno Valverde em 02/12/2014
Reeditado em 26/12/2017
Código do texto: T5056368
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.