Aos arredores
A miséria é uma sina
Na sociedade e na alma
Dos periféricos aglomerados
Sobre os tijolos laranjas
E os tetos de papelão
Com lantejoulas de esperança
E filhos com fome
Da vontade do leite
Córregos arredores
Mosquitos, pestes, doenças.
Minhas veias pulam conforme o compasso da seringa mutilando meu templo
Arrancando minha liberdade
Fazendo-me atirar nos homens
Fardados, atropelados, loucos.
Atravesso você
Soldado de pedra
Lágrima nos olhos
Misturados com cimento
O pedreiro colocou o pão na mesa
E não fez amor com a patroa
A solidão que me acompanhe
TIRO
Cai na rua
Sai, sai, sai mídia.
Não fotografa meu corpo
Apenas avisem minha mãe
Cidadão da favela morreu
Com a arma na mão
E a seringa no coração.