QUANTAS VEZES... ZÉ FULANO?
Quantas vezes, Zé Fulano,
pelas ruas tu dormiste?
Quantas vezes ficou triste,
por não ter o que querias?
Quantas vezes chorarias
a falta do que comer,
a falta de bem-querer...
quantas vezes, Zé Fulano?
Quantas vezes guri taura,
sofreste tua má sorte?
Quantas vezes vistes a morte,
estampada a tua frente?
Quantas vezes passou gente
correndo sem te olhar,
desprezando o teu penar...
quantas vezes, Zé Fulano?
Quantos Natais sem presentes
e “Reveillons” sem carinhos,
sem ao menos um pouquinho
de amor pra partilhar?
Quanto tempo vai passar
daqui para o teu futuro,
comendo o pão velho e duro...
quantas vezes, Zé Fulano?
Quantas vezes desfraldastes,
panos rotos pelas ruas?
Pra cobrir a carne nua
vergonha da sociedade,
mas que não teve piedade
de te jogar pelo mundo,
e te chamar vagabundo...
quantas vezes, Zé Fulano?
Quantas vezes piá alarife,
tu vais brincar de viver?
Quantas vezes vais comer
o pão que o diabo amassou?
E por esmola tu aceitou
pra matar a tua fome;
E vais dar perdão ao homem...
Quantas vezes, Zé Fulano?
Quantas vezes, vou ver Zé?
Pelos becos do meu pago,
sem amor, sem afago,
sem um lar e sem carinho,
morrendo bem de mansinho
sem ao menos a comida.
Em outro corpo, volta à vida...
quantas vezes, Zé Fulano