CÃO

Cão sem rumo errando ao mundo

sem abrigo e cobertor

que agasalhe seus temores

e carências de acalantos

sai correndo atrás do andor

sobre o qual passeia um santo

cravejado de áureos brilhos.

Eis que o andor motorizado

acelera, avança à rua

com seu santo de osso e carne

que se pensa de ouro e chumbo;

pobre cão então desiste

de alcançar o andor de rodas

do tal santo a que ajudou

com martírio de trabalho

a vencer canonizado.

Deita triste e derrotado

num cantinho lá do beco

a lamber feridas, ínguas,

amputado da lembrança

de que um dia já foi gente.

Marco Aurelio Vieira
Enviado por Marco Aurelio Vieira em 13/01/2015
Reeditado em 07/08/2019
Código do texto: T5100147
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