Figuras invisíveis
São essas pessoas que a gente vê todo dia,
descuidadas, embriagadas, loucas ou drogadas,
pelas periferias das áreas urbanas,
quando as vemos, mas não as enxergamos,
pois elas mesmas não se enxergam
e muito menos se cuidam, nunca se cuidaram
e não fomos nós quem as isolamos,
elas mesmas quem se isolaram
e sem perspectivas, (vivas). Será?
Perambulando pelas feiras, livres,
isentos de toda e qualquer tributação,
completamente descompromissadas,
com as suas vidas e as alheias.
Não têm mais sangue nas veias,
somente resíduos de coisas ruins e afins.
Verdadeiros mulambos sociais,
ocasionais demais,
diante da crescente demanda,
dos que supostamente mandam,
prometem, mas não fazem.
Se comprometem, mas não cumprem.
E não adiantam asilos, exílios
ou quilos de alimento.
O problema é mais sério, mais profundo
e muito mais grave.
Não vem de hoje e nem vai findar agora.
Muito provavelmente no dia de finados,
quando velhos hábitos forem sepultados
e tratarmos com maior seriedade
a gravidez indesejada ou irresponsável.
De alguém cuidar de outrem,
quando esse mesmo alguém,
não cuida nem de si.
Quero voltar a sorrir,
mas isso também, talvez demande muito tempo,
o tempo de outro rebento crescer.