Monólogos sobre Drogas

Monólogo I

Noiado?

Que coração é este que me coloca como um desgraçado?

Marginal?

À margem, sim, excluído por vocês que se julgam tão donos da razão.

Quem me deu oportunidade? Quem sacia minha fome, minha vontade?

Viciado?

Quem não é? Todos tem seus vícios, tão nocivos quanto qualquer outro.

Drogado?

Na lama? Quem me enxerga? Quem reclama por eu não ter moradia?

Reclamam, sim, por eu estar nas calçadas, cheirando cola.

Polícia vem e bate.

Toma minha cola.

Bate tanto que quase me mata. Mas quem mata minha fome?

Também sou homem. Também sou gente.

Quem dos que estão aqui me vê e sente?

Monólogo II

Maconheiro safado?

Calma lá, senhor, sou só um usuário.

Entrar na viatura?

Porque cana, se só tenho essa coisinha?

Traficante?

Deveria estar no presídio?

Contraventor?

Como assim, doutor?

Que mal eu fiz? Só porque fumo uma erva pra ficar mais feliz?

Monólogo III

E o tráfico corre solto

Financiado pelo próprio Estado

Um Hollywood é oitenta centavos

E a skol chega a cinco reais

E quem perde se regulamentar a maconha?

O usuário, o dependente? Ou o empresário?

E o álcool é a droga que mais mata

E a TV escancara comerciais de mulheres gostosas junto com a bebida

E a maconha? A maconha continua proibida.

Porque alguns acreditam ser a porta de entrada.

Pensam tudo errado

Como diz Ubirajara “Tá todo o mundo enganado”

Não é proibir, nem reprimir

É prevenir, é educar

Legislar.

Monólogo IV

Mais uma criança morre vítima de bala perdida

É, faz parte da vida?

Foi a pm que atirou?

Era pra acertar o bandido

E a criança, o que tinha a ver com aquilo?

Favelado é tudo bandido?

Negro é tudo um bando de fudido?

Presta atenção nos teus conceitos

Bala só não mata mais que preconceito!