APOLOGIA DO LAZER

Apologia do Lazer

autor: j.r.filho

Nas incertezas da vida

O tempo passa depressa

Enquanto cuido da lida

Míngua o que nos interessa.

Na faina, no trabalho,

Se extingue a mocidade

Como cartas de baralho

Gastas pela nulidade.

Nunca fiz apologia

Do vício de trabalhar...

Adoro a filosofia

Que nos ensina a pensar.

Pensar no que é bom gente,

Nunca para o explorador!

Trabalho só faz contente

Quem sempre nos explorou.

O lema do dominante

Diz que o trabalho enobrece,

Mas ele fica distante

Trabalho não lhe apetece.

Foi assim em toda história

Ele nunca vai mudar

Viveu coberto de glória

Sem precisar trabalhar.

Assim, nos educandários,

Há um lema como meta

Dizendo para os otários

Que o lazer a moral veta.

É fácil compreender

Esse gesto do patrão

Pagando pra poder ver

Nenhuma transformação.

Por isso estou escrevendo

Na hora de trabalhar,

Ao patrão fico devendo?

Há subversão no ar?

Numa análise derradeira

Das nuances da labuta

Vê-se que a mais verdadeira

É inspirada na luta.

Na luta pela existência

Ao sabor da tirania

Num rasgo de resistência

Suportando a “mais valia”.

Feira de Santana, 27 de novembro de 1984.

Extraída do meu livro: O Homem, o Tempo e a Poesia.

José Rodrigues Filho
Enviado por José Rodrigues Filho em 03/07/2015
Reeditado em 04/02/2016
Código do texto: T5298199
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