Deserto

Choro com as ramadas sobre este ar soturno

Que arde e que brando queima os montes verdejados

Quanto futuro cruelmente desbaratado!...

Pelo progresso que cavalga um monstro descontrolado

Abafo-me no sufoco da “siesta” abafada

Não há descanso para um céu ferido e mutilado

O azul que foi divino é olhado desconfiado

O ritual da morte vem do sol, antes idolatrado

As contas que se façam não invertem a certeza

De que a terra está doente

E que somos disso os responsáveis

Os alertas troam tardios mas continuam ignorados

Enquanto neva cinza, parda e asfixiante

O verde não resiste e o que seca não floresce

O deserto avança, avança e não se cansa

Minh’alma é um deserto, faminta esperança.

Moisés salgado