Castro Alves visita a favela.

Cala o teu ego em meu espírito,

meu conspícuo Castro Alves,

pois teu negreiro ainda sussurra,

o açoite, a fome e outras mazelas.

Por que perturbas minha consciência?

Ouço teus passos adentrando na favela.

Voga tua poesia sobre este esgoto fétido,

a queimar-lhe as narinas,

sob o céu cinzento e em aberto.

Sob teus pés, a urina e o ranço,

de pelados e maltrapilhos;

dos herdeiros da casta marginalizada.

Clama do céu meu amigo poeta.

Roga com a beleza de teus versos,

ao teu povo tão amado e sofrido;

venha nova libertação.

Voga tua poesia silenciando o pranto,

entre as tábuas frias as lágrimas prostituídas.

Sossega teu ego em meu espírito,

enquanto adormeço fitando tua mão,

tristemente empunhando a pena.

Idos, cento e trinta e seis anos,

ainda ouves o tortuoso lamurio.

Voga tua poesia Castro Alves.

Vejo-te na favela, numa imensidão de barracos,

sobre o rastro do árduo batalhador

e dos comensais traficantes.

Vide a inocência desvanecida pelas armas,

pelo medo e pela falta de oportunidades

e voga em tua poesia, que a esperança prevaleça.

(2º Lugar Concurso Poesiarte em Foco 2007 - Rio de Janeiro)

Sandro Colibri
Enviado por Sandro Colibri em 10/07/2007
Reeditado em 04/09/2007
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