DESTROÇOS DA EXISTÊNCIA

As lágrimas secaram, mas não pelo fim da tristeza.

Secaram, porque a desolação venceu a alegria.

As crianças correm pelas ruas, mas não por brincadeiras.

Correm fugindo das bombas lançadas por pessoas frias.

O recém-nascido no sertão dorme um sono profundo,

Mas não por conforto ou alento e sim pela fome que o desola.

Um homem sai do subsolo e observa as paisagens do seu mundo,

Mas não por admiração, olha os destroços existenciais que o isola.

O soldado, depois de ferrenhas batalhas retorna da guerra,

Mas não está feliz, está triste ao contemplar o seu corpo mutilado.

Um andarilho, cansado, observa no jardim alheio as flores ternas.

Mas não se inspira com a beleza, pois se sente marginalizado.

Um camponês admira o enorme horizonte de terras disponíveis,

Mas o descontentamento o consome, pois ele não tem onde plantar.

E tenta entender porque o mundo é tão cruel e desprezível,

Pois alguns passam fome e outros, a arrogância a saciar.

Nações pregam a liberdade, mas ao preço de algum povo dominado,

Afirmando que são melhores e mais fortes, delimitam suas fronteiras.

Em seus hinos cantam uma glória insana zombando os derrotados.

Constroem metáforas da segregação erguendo opressoras cercas.

Mundo complexo e estruturado nas bases da ignorância,

Tentando explicar e mostrar a clareza dos destinos na contradição.

Poderosos estruturados com exércitos e armas matam a esperança,

Alimentando nos menos afortunados o conformismo ou a decepção.

Vicente Mércio
Enviado por Vicente Mércio em 31/07/2016
Código do texto: T5714661
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