DESORDEIRA

Desordeira!

Mulher negra problemática

Mulher negra insubmissa

Mulher negra atormentada

Não se viu na tela

pintou -se na parede

Não se viu no livro

escreveu-se num diário

Não se viu na vitrine

posou no meio da rua

- Atormentada!

- Insubmissa!

- Problemática!

Não entende que o mundo

é o que é e não muda

faz o que faz e não para

diz que diz e não cala

Atormentada em não se ver

Insubmissa ao que está sendo

Problemática num mundo resolvido

Ergue sua voz

no silêncio da normalidade

Ergue seu punho

solitário entre mãos cativas

Ergue seus olhos

esticados para além da noite

Mulher negra insubmissa

Mulher negra atormentada

Mulher negra problemática

Insiste que a vida é mais

do que morte e solidão

do que dor e indiferença

do que choro e lamento

Mulher negra inacabada

Se faz com tijolos de aço

Entrelaçados com tiras de cetim

Cantando e pisando na dor

Lutando e vencendo a indiferença

Solapando as bases da tristeza

Arruinando os pilares da solidão

Refaz-se de si para o mundo

Inacabada que se vê

Como ponta de uma flecha

No arco de sua própria história!

Mulher negra problemática

Negra insubmissa

Mulher atormentada

Desordeira, afinal.

Fabio Ferreira S
Enviado por Fabio Ferreira S em 03/10/2016
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