Milagre nordestino

No universo nordestino

todo filho é Severino,

quando no muito é Raimundo,

quando no muito é José...

A tez curtida é destino

e o bruto que foi menino

escava o solo infecundo

plantando um pouco de fé.

A seca do sol a pino

nega o fruto ao Severino,

nega os sonhos a Raimundo

e nega a vida a José....

Mas, nordestino da peste

não sente medo do agreste;

cava o solo bem mais fundo,

cava a cova de José.

Não sente dor, não tem mágoa.

Lá de dentro um fio d’água

vai brotando, pequenino...

O velho tira o chapéu

e olha ao céu, cheio de fé.

Põe no “couro” a água barrenta

e esparge como água benta

sobre o corpo de José!

Poeteiro
Enviado por Poeteiro em 08/10/2005
Código do texto: T57942