Milagre nordestino
No universo nordestino
todo filho é Severino,
quando no muito é Raimundo,
quando no muito é José...
A tez curtida é destino
e o bruto que foi menino
escava o solo infecundo
plantando um pouco de fé.
A seca do sol a pino
nega o fruto ao Severino,
nega os sonhos a Raimundo
e nega a vida a José....
Mas, nordestino da peste
não sente medo do agreste;
cava o solo bem mais fundo,
cava a cova de José.
Não sente dor, não tem mágoa.
Lá de dentro um fio d’água
vai brotando, pequenino...
O velho tira o chapéu
e olha ao céu, cheio de fé.
Põe no “couro” a água barrenta
e esparge como água benta
sobre o corpo de José!