Castelo de ideias
Construí castelos em ilhas de vivência
Substitui heróis conforme a minha carência
Hoje eu mesmo controlo pra quem dou audiência
Essa ciência é sapiência e pro povo é só referência
O castelo que eu assistia desde menino
Filósofos e personagens entre Sartre e Nino
Sou uma alegoria com meu olhar saturnino
Pulei do Rá-Tim-Bum direto pro existencialismo
Entre a ânsia de ter e o tédio de possuir
Vivo guerras internas, não sei até onde posso ir
Situações que nem mesmo Freud explica
Antropofágico, engoli toda Guernica
E a Guernica me engoliu, me trouxe cultura
A arte camuflada subverte a ditadura
Assim que eu me flagro debatendo com a loucura
Seria insanidade concordar com essa tortura
Peço desculpas pro meu professor de geografia
Mas eu desisti da política feita lá em Brasília
O inferno de Dante é uma metáfora, fia
E eu ainda desço na Paraíso todo dia
Dirigindo o meu país é só bração
A igreja traz mais assombração
Quando a polícia vai pra rua sobra ação
Mas “o militarismo é só um brasão”
Ingênuo, sou poeta e ainda não sei
Se a arte imita a vida ou se a arte eu imitei
Com poesias multissilábicas eu expliquei
Inverti a lógica, sigo existindo e nem pensei
Mas e o “Penso, logo existo”
Descartes pensou ou existiu pra bolar isto?
Pensou? Eu descarto deste consenso
Talvez o certo seja “Existo, logo penso”
Pensar para existir é muito erudito
Sou a existência do Sum, ergo cogito.