A morte de um pais
Tu nunca viste um filho de Deus
Refugiado na mata a viver só de areia;
O olhar de um moribundo à espera de Deus
O coração de um pai com filho morto nos braços,
Não conheces a dor, nunca viste a agonia de um filho
A tristeza habita na lágrima da enteada de um pedófilo
No olhar de uma mãe sem pão nem água para o filho
No choro do bebé que tenta buscar leite no cadáver da mãe
Mãe adormecida ao sabor de uma bala encravada no peito
A criança chora, esperneia, secou-lhe a fonte da sobrevivência
Enquanto a fome abate e enterra o olhar daquele menino;
Na fartura, o teu filhos brinca de helicópteros ainda menino.
Manos em muchungue defecam munições nas costas do povo
Bancos famintos, bolsos desabitados de moedas, a crise impera de novo
Tombei numa morte sarcasticamente epopeica.
Estou pronto para vestir o pijama de madeira,
Binocular o mundo a partir da fúnebre trincheira.
<<Partir>> não é vontade, é a voz do eterno legislador.
A tua fé mentiu e a tua espada te degolou…
Quando beijares a sepultura que o tempo preparou,
Como a triste sombra que o tempo apagou,
Sucumbindo ante a dura lei do esquecimento,
Não haverá Deus que te salve da fúria do destino.
Quando a morte me chamar, vou com um sorriso epopeico…
Pois, sobre mim, não resvala a borracha do tempo.
Já não é tempo de procurar diamantes no rio de sangue dos outros manos.
No reino da agonia, impera a tristeza que germina no coração das minhas manas.
Venham comigo à luta, salvar vidas e repor o sorriso nos lábios daqueles manos!
Manos, deramemos sangue e suor para que Mocambique não morra de novo.