POEMA SOLIDÁRIO

Você pode ser solidário ao prato, de fato,

o vestindo com a roupa de arroz e feijão,

prato esse que será solidário

ao Sr. Januário, catador no lixão,

(só um lembrete), não sabe ler,

nem ver os dias no calendário,

só sabe o nome escrever,

não é um doutor sabido, não,

tem os olhos solitários,

de tanto não ter

só tem as mãos...

Você pode se solidarizar

com a mãe que não tem trabalho fixo,

mas tem que cuidar dos cinco filhos,

que não sabia como se proteger

do aumento da prole,

e o parceiro, mesmo que a enrole,

quer ter no fundo, uma família,

sem saber que se tornariam uma ilha

no mar imenso dessa civilização...

Você pode sugerir solidariedade a quem acumula

enormidades de terra e rebanhos de tantas mulas,

a quem se senta na cadeira de ouro, todo refestelado,

uma lasca desse móvel já salvaria os cegos e os desdentados,

de viver sem periscópio e nem luneta de fabricante chinês,

dar um toque sem eletro-choque a quem se recusa a ver

que mais bem faz quem pouco dá do que quem diz fazer,

desenhar a porta que abre as comportas da solidarização,

dar de comer a quem tem fome de amor no coração...