A garota de Diadema
Olha que coisa mais triste
A infância em desgraça,
É essa menina no meio da praça
Cheirando cola, pedindo trocado,
Com um acre sorriso,
A menina sem lar...
Olha só que indecência
É a nossa falência,
Falhou o governo
Falhou todo mundo,
Uma menina descalça
Que não vai almoçar...
É a copa, é a Globo, é a mentira integral,
é o país do futuro, hipnose geral,
É o descaso de todos,
que a fé não alcança,
já está morta a criança
sem poder descansar...
Olha só o barquinho a deslizar
Feito do jornal sangrento
É o esgoto a céu aberto
E ela mora lá perto,
Vai embora com o vento...
É cruel seu destino,
Nem consegue chorar.
É o crack, é a erva,
É o pó infiltrado
No nariz do Estado,
Olha só que tristeza
Ela é só pele e osso,
É o fundo do poço,
E ninguém vai lhe salvar.
Que importa Ipanema?
Eis a garota de Diadema
Uma beleza escondida,
Alheia à própria vida,
Uma flor do deserto
Que não deixam brotar.