Espectros

Assombram-me fantasmas do meio-dia

cruzando, apressados, meu caminho

e por pouco não trespassando meu corpo

se lhes entro na trajetória alucinada...

Olhos vazios não me olham

e mentes distantes,

delirantes,

não se dão conta de minha presença..

Fantasmas me tocando as pernas,

sentados nas calçadas

na mendicância de mãos e olhares tristes

e de feridas expostas e sanguinolentas...

Fantasmas meninos nas esquinas cheirando cola

e coca – bons tempos da ordem inversa: coca-cola!

Grávidas meninas sem bonecas

ou bonecas grávidas brincando de dizer: mamãe!

Apenas fantasmas com um som metálico na voz

esquecida, definitivamente, do amor...

Fantasmas ambulantes, flanelinhas, assaltantes...

Fantasmas do meio-dia à luz do sol.

Eu perambulo entre fantasmas – estou louco?

Mas olho na vitrine da “queima de estoques”

e vejo – como um espelho – outro fantasma,

espectro assustado e assustador

a me assombrar em pleno dia!

Poeteiro
Enviado por Poeteiro em 18/10/2005
Código do texto: T60678