Historinhas repetidas

Tudo o que ele queria da vida era viver.

Existir com decência, persistir na inocência

e para isso ele só precisava da chuva,

mas a chuva não vinha

e tem vindo cada vez menos,

então para isso ele ajudou a eleger o deputado.

Curioso isso, como quem elege um líder sindical

e aí passa a trabalhar muito mais.

Trabalha para si, para os seus

e também trabalha para ele.

E quanta gente apanhou por isso,

somente por insistir em viver com decência

e para testar a sua paciência,

até os seus apelos pela chuva,

suas promessas e penitências,

para chegarem a Deus,

passaram a ter que ter

o aval de alguém,

com muito mais ambição que ele.

A chuva continua não vindo,

o seu deputado foi caçado,

mas jura que é inocente,

enquanto ele, penitente,

mas bem mais reticente,

duvida hoje até da boa vontade de Deus,

mas não externa isso,

porque pode ser considerado como blasfêmia

e tudo o que ele não quer na vida,

é contar também com a ira de Deus.

É muito duro perder a fé.

Faz bem crer que exista alguém acima de todos nós,

atento a tudo isso

e que um dia recompensará

a todos aqueles que são bons.

O padre já está garantido,

o pastor é fiel ao seu partido

e aí ele se pergunta:

quando é que chegará a sua vez?

Não veio a reforma agrária,

uma das promessas partidárias;

não veio aquele projeto de irrigação

e até o rio está secando.

Também estão secado suas lágrimas,

porque está se acabando a sua fé.

Porque Maomé só prometeu,

veio Cristo e não resolveu,

mas ele não quer ser ateu,

pois deve ser muito desolador,

passar pela vida

e não acreditar em ninguém.

Por isso,

amém, meu Pai, amém.